Por que será que tudo o que foge do ordinário é muito mais atraente? Por que temos a tendência de nos surpreender com o novo ou refutar o obsoleto? A mesmície cotidiana sempre reprovou a aventura e buscou o costumeiro. Por isso o proibido passou a ser tão tentador.
Herdamos de nossos antepassados um instinto por demais aventureiro, que nos proporciona doses bastante razoáveis de adrenalina quando enfrentamos uma possível experiência original. O medo, as conseqüências, a fraqueza são involuntariamente esquecidas e uma coragem sem precedentes passa a surgir no lugar dessas.
A traição é apenas um de muitos exemplos que eu aqui poderia citar. Um ato que mudou, por muitas vezes, os acontecimentos da História. Deixou marcas provisórias e conseqüências que repercutiram globalmente . Aquela que atravessou a Grécia Antiga, passou pela Europa Moderna e que na contemporaneidade atua de forma ainda mais constante. É ela: a traição. Provocante, inebriante, sufocante e por demais misteriosa.
Helena traiu. A mulher mais linda do mundo sentiu-se seduzida pelo olhar pouco inocente de Paris, príncipe de Tróia. Esse, que chegou à Esparta a fim de realizar uma missão diplomática, acabou se apaixonando pela mulher de Menelau, então rei daquela mesma pátria. Uma traição que custou muitas vidas e que, para muitos, não foi compensada, tais foram os danos catastróficos causados na terra de Príamo. Entretanto, para Paris, mesmo que não tenha conquistado o amor eterno de Helena, tenho certeza que cada gota de sangue derramada inquestionavelmente valeu a pena. Afinal, teve a audácia de se arriscar ( e ainda pôr em risco toda sua nação) em busca de um objetivo que para muitos parecia impossível de se concretizar. Convenhamos, mas Paris, ainda que sua nação tenha sido derrotada pelos gregos no final da guerra, obteve o maior mérito entre tantos heróis que incendiaram as batalhas. Saciou, ainda que não permanentemente, o desejo mais ardente que qualquer homem poderia ter na época: vivenciar uma paixão ardente com a mulher mais bela da época.
A Inglaterra Moderna, indiferentemente, também vivenciou uma traição digna de méritos. Foi através do desejo insaciável do rei Henrique VIII por Ana Bolena que a história inglesa tomou rumos nunca antes imaginados. Ana Bolena, no entanto, resistiu bem mais aos encantos do rei do que o fez a bela moça de Esparta em relação a Paris. Ana exigiu que o rei se casasse com ela para que enfim seu desejo se consumasse. E assim ele o fez. Já como sua esposa na época, Catarina de Aragão, tardava a lhe conceder um herdeiro, Henrique acreditou nas palavras de Ana Bolena, a qual prometeu que lhe daria um primogênito. Henrique VIII, portanto, contrariando as leis da Igreja Cristã da época, casou-se com a sua amante, e foi, dessa forma, excomungado da Igreja pelo Papa. O rei, assim, fez surgir uma nova Religião na Inglaterra: o Anglicanismo. Apesar da nova rainha não ter-lhe concedido um filho, e de ter decapitado-a por ter sido acusada de adultério, o rei marcou a história universal ao introduzir o divórcio nas relações matrimoniais, através da Igreja Anglicana.
Já na contemporaneidade, não podemos reconhecer mérito algum ao ex-presidente norte-americano Bill Clinton. Como sustenta Arnaldo Jabor, o fato ocorrido entre Mônica Lewinski e Clinton só propiciou conseqüências negativas para as relações interestatais do país em questão. Não cabe a mim descrever o fato a que me refiro, pois acredito que todos devem estar a par dos acontecimentos atuas (hehe). Cabe a mim apenas explicar, portanto, porque Jabor acredita que tal fato foi “uma noite de sexo que mudou o ocidente”. Depois do término do mandato de Clinton, a batalha deu-se entre o Republicano Bush e o Democrata Al Gore. O que ocorreu foi uma fraude nas eleições, manipulada pelo partido de Bush e omitida pelos Democratas. Omitida pois Al Gore não queria parecer “conivente” com a “sacanagem” clintoniana. Engoliu a derrota nas urnas e deixou a estrada livre para que Bush pudesse lançar mão de suas estratégias “antiterroristas”. Estratégias essas que deram início a uma guerra santa sem precedentes no Oriente, estimulada por interesses próprios que somente afirmam o fanatismo oriental e incitam a uma Era por ele( Bush) imposta, em que o Ocidente democrático e pacifista enfrenta o Oriente fundamentalista ditatorial. O extremismo da falsidade. Culpa dos desejos de Clinton? Talvez. Veja lá com quem pretendes compartilhar uma traição. As conseqüências podem ter repercussões inimagináveis.
Negativas ou não, as repercussões de uma traição sempre se originarão ante a um ato aceitável. Muito mais para aquele que trai do que àquele que é traído, obviamente. Porém sempre há a súbita satisfação entre aqueles que saciam o seu desejo maior. Não me interpretem mal: não estou aqui fazendo uma apologia à traição. Mas que, em dadas circunstâncias, seria bom mudar o rumo da história arriscando-se por um desejo aparentemente inalcançável, com certeza seria...
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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