quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A força de uma Traição

Por que será que tudo o que foge do ordinário é muito mais atraente? Por que temos a tendência de nos surpreender com o novo ou refutar o obsoleto? A mesmície cotidiana sempre reprovou a aventura e buscou o costumeiro. Por isso o proibido passou a ser tão tentador.

Herdamos de nossos antepassados um instinto por demais aventureiro, que nos proporciona doses bastante razoáveis de adrenalina quando enfrentamos uma possível experiência original. O medo, as conseqüências, a fraqueza são involuntariamente esquecidas e uma coragem sem precedentes passa a surgir no lugar dessas.

A traição é apenas um de muitos exemplos que eu aqui poderia citar. Um ato que mudou, por muitas vezes, os acontecimentos da História. Deixou marcas provisórias e conseqüências que repercutiram globalmente . Aquela que atravessou a Grécia Antiga, passou pela Europa Moderna e que na contemporaneidade atua de forma ainda mais constante. É ela: a traição. Provocante, inebriante, sufocante e por demais misteriosa.

Helena traiu. A mulher mais linda do mundo sentiu-se seduzida pelo olhar pouco inocente de Paris, príncipe de Tróia. Esse, que chegou à Esparta a fim de realizar uma missão diplomática, acabou se apaixonando pela mulher de Menelau, então rei daquela mesma pátria. Uma traição que custou muitas vidas e que, para muitos, não foi compensada, tais foram os danos catastróficos causados na terra de Príamo. Entretanto, para Paris, mesmo que não tenha conquistado o amor eterno de Helena, tenho certeza que cada gota de sangue derramada inquestionavelmente valeu a pena. Afinal, teve a audácia de se arriscar ( e ainda pôr em risco toda sua nação) em busca de um objetivo que para muitos parecia impossível de se concretizar. Convenhamos, mas Paris, ainda que sua nação tenha sido derrotada pelos gregos no final da guerra, obteve o maior mérito entre tantos heróis que incendiaram as batalhas. Saciou, ainda que não permanentemente, o desejo mais ardente que qualquer homem poderia ter na época: vivenciar uma paixão ardente com a mulher mais bela da época.

A Inglaterra Moderna, indiferentemente, também vivenciou uma traição digna de méritos. Foi através do desejo insaciável do rei Henrique VIII por Ana Bolena que a história inglesa tomou rumos nunca antes imaginados. Ana Bolena, no entanto, resistiu bem mais aos encantos do rei do que o fez a bela moça de Esparta em relação a Paris. Ana exigiu que o rei se casasse com ela para que enfim seu desejo se consumasse. E assim ele o fez. Já como sua esposa na época, Catarina de Aragão, tardava a lhe conceder um herdeiro, Henrique acreditou nas palavras de Ana Bolena, a qual prometeu que lhe daria um primogênito. Henrique VIII, portanto, contrariando as leis da Igreja Cristã da época, casou-se com a sua amante, e foi, dessa forma, excomungado da Igreja pelo Papa. O rei, assim, fez surgir uma nova Religião na Inglaterra: o Anglicanismo. Apesar da nova rainha não ter-lhe concedido um filho, e de ter decapitado-a por ter sido acusada de adultério, o rei marcou a história universal ao introduzir o divórcio nas relações matrimoniais, através da Igreja Anglicana.

Já na contemporaneidade, não podemos reconhecer mérito algum ao ex-presidente norte-americano Bill Clinton. Como sustenta Arnaldo Jabor, o fato ocorrido entre Mônica Lewinski e Clinton só propiciou conseqüências negativas para as relações interestatais do país em questão. Não cabe a mim descrever o fato a que me refiro, pois acredito que todos devem estar a par dos acontecimentos atuas (hehe). Cabe a mim apenas explicar, portanto, porque Jabor acredita que tal fato foi “uma noite de sexo que mudou o ocidente”. Depois do término do mandato de Clinton, a batalha deu-se entre o Republicano Bush e o Democrata Al Gore. O que ocorreu foi uma fraude nas eleições, manipulada pelo partido de Bush e omitida pelos Democratas. Omitida pois Al Gore não queria parecer “conivente” com a “sacanagem” clintoniana. Engoliu a derrota nas urnas e deixou a estrada livre para que Bush pudesse lançar mão de suas estratégias “antiterroristas”. Estratégias essas que deram início a uma guerra santa sem precedentes no Oriente, estimulada por interesses próprios que somente afirmam o fanatismo oriental e incitam a uma Era por ele( Bush) imposta, em que o Ocidente democrático e pacifista enfrenta o Oriente fundamentalista ditatorial. O extremismo da falsidade. Culpa dos desejos de Clinton? Talvez. Veja lá com quem pretendes compartilhar uma traição. As conseqüências podem ter repercussões inimagináveis.

Negativas ou não, as repercussões de uma traição sempre se originarão ante a um ato aceitável. Muito mais para aquele que trai do que àquele que é traído, obviamente. Porém sempre há a súbita satisfação entre aqueles que saciam o seu desejo maior. Não me interpretem mal: não estou aqui fazendo uma apologia à traição. Mas que, em dadas circunstâncias, seria bom mudar o rumo da história arriscando-se por um desejo aparentemente inalcançável, com certeza seria...

domingo, 3 de agosto de 2008

Um desabafo

Há algo que hoje me intriga muito. Digo hoje pois, de uns tempos para cá, devido aos últimos acontecimentos que andei presenciando e me envolvendo, parei para pensar mais nas coisas. Nas palavras, nos atos, nos sentimentos. E percebi que o mundo hoje está mais frio como nunca. As pessoas se sentem culpadas por parar, por refletir. No mundo onde o “tempo é dinheiro”, já está muito caro abrir mão de qualquer atividade lucrativa para pensar naquilo que realmente tem valor, mas que dinheiro algum pode comprar.

Eu mesmo, na maior parte do tempo, me vejo pensando no futuro, nos objetivos que ambiciono, no meu sonho em me tornar uma mulher independente e bem-sucedida na carreira profissional. Todos têm o direito de esperar obter êxito no seu ramo de trabalho. Não condeno ninguém de fazê-lo. Muito pelo contrário, acho realmente saudável e positivo pensarmos nisso. Porém para todas as coisas, há um limite. E é essa a origem da minha angústia. O mundo, para muitos, passou a reduzir-se em dinheiro e bens tangíveis. Nós, muitas vezes, passamos a construir nossas vidas e nossas relações baseando-se no princípio que o dinheiro é o que nos faz feliz. E há algo muito errado nisso.

Obviamente sei que, nas circunstâncias que nos norteiam atualmente, o dinheiro sim ajuda a alcançarmos a felicidade. Mas as pessoas muitas vezes esquecem que ele é certamente, secundário. E se equivocam quando desprezam a idéia de que a felicidade está nos detalhes, nas pequenas grandes coisas da vida. As pessoas ignoram que a origem das coisas belas estão, simples e puramente, nelas mesmas (nas pessoas!). Há algo mais valioso do que um sorriso, um abraço, uma verdadeira amizade? Há algo mais lindo e encantador do que um olhar apaixonado, uma voz que aconchega, um beijo que arrepia? Palavras sinceras, abraço que aperta, carinho que acalma? Definitivamente, não.

Tenho certeza que todos nós, sem exceção, por sermos seres humanos e por isso dotados de sentimentos, temos a consciência da real felicidade. Entretanto, justamente por sermos humanos e por errarmos em vários aspectos, só damos o real valor a partir de quando perdemos aquilo que nos faz feliz. Não digo que isso é uma regra, mas no geral costumamos agir dessa forma. Talvez haja um porquê, talvez só sirva de lição para que não erremos novamente.

Enfim. Por diferentes razões terei que me afastar( em alguns casos já estou me afastando) de pessoas que me proporcionaram significantes doses de felicidade. Essas pessoas, de uma forma ou de outra, me fizeram crescer. Me afirmaram o quão feliz eu fui estando ao lado delas e foram suficientes para fazerem com que minha vida fosse, digamos assim, mais plena. O que me conforta, hoje, é saber que algumas delas vão voltar, e que há uma vaga possibilidade (mas assim, ainda há) de que algumas que dificilmente voltariam, voltem de fato. O que me conforta, ademais, é que eu sempre poderei lembrar delas, dos momentos maravilhosos e inesquecíveis que um dia com elas compartilhei.

Esse texto pode ter sido inspirado em várias pessoas. Numa tia que já se foi, numa prima que foi mas volta, numa amiga que está para ir mas tem que voltar, ou quem sabe num quase amor que, por razões diversas, não deu certo.
Pode ter tido vários objetivos; que cada um encontre o que lhe convém. Para mim, mais um desabafo.

Não esqueçamos das pequenas e belas coisas.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uma cultura reduzida

Como já exemplifiquei aqui mais de uma vez, a ignorância é algo que me rebela. Acalmem-se, não vou dissertar a respeito do meu colega de curso, muito menos de lula, ainda que mereça ser por mim subestimado. Abro a discussão com um assunto talvez menos polêmico, mas que por si não nega sua relevância.

Conheço vários amigos que já moraram no exterior. Alemanha, Espanha, Canadá e Estados Unidos são os destinos mais escolhidos. Como estudante de Relações Internacionais, nunca deixo de perguntar da experiência por eles vivenciada, do relacionamento que tiveram com o povo estrangeiro, como perceberam a diferença cultural e etc. Como resposta, sempre há considerações semelhantes: além de enfatizarem aspectos que se destacam se comparados ao nosso país( como segurança, limpeza, meios de transporte eficientes,...) sempre relatam a noção um tanto quanto limitada que os outros têm a respeito do povo brasileiro e do Brasil como um todo.

Além de perguntas como "Tu costumas ir de cipó para os lugares?" ou "Como é conviver com os macacos?", alguns dos países já citados muitas vezes definem nosso país em breves palavras: "Mulheres bonitas"; "Samba"; "Carnaval" ;"Caipirinha". São ignorantes ou simplesmente ignorados por suas instituições educacionais que não lhes proporcionam uma formação ampla e não-etnocêntrica, as quais somente enaltecem sua própria cultura e refutam as etnias por eles taxadas de "inferiores"?

Obviamente, no estágio da globalização em que estamos inseridos, não poderíamos culpar as academias por tal formação. Ainda que exerçam influência no modo de pensar de seus formandos, eles têm a liberdade de querer conhecer o desconhecido(e eles, mais que qualquer um, dispõem de ferramentas para isso). Há tantos meios de informação hoje no mundo que facilitam o entendimento e aprofundamento cultural que não há como deixar de classificar esses que nos taxam de meros ignorantes, pelo menos no quesito cultural.

Os Estados Unidos são excelentes limitadores da nossa cultura. Desde os anos 30, quando a política externa estadunidense foi reformulada a fim de tornar a potência norte-americana como hegemônica no continente americano, as nações latino-americanas passaram a sofrer profundas influências deste país. Walt Disney foi o principal protagonista dessa estratégia política. Patrocinado pelo governo, foi responsável por criar dois desenhos que demonstrassem a suposta amizade e união dos países da Latino – América com a dita potência. Dessa forma, nasceu, entre outras figuras, o animado e gracioso Zé Carioca.

Apesar de ter feito grande sucesso não só no Brasil mas na maioria dos países das Américas, ele foi fruto de pesquisas norte-americanas que com certeza reduziram a brasilidade a um estereotipo visto a partir das considerações do país que o produziu. O personagem, assim como o contexto a que é inserido nos desenhos, representa uma visão por demais limitada da nossa cultura. Representado pelo animal papagaio, José Carioca aparenta ser alguém bastante malandro, divertido e despreocupado. Em uma viagem à Bahia, Zé apresenta para Donald a cachaça brasileira, o carnaval, o samba e mulheres bonitas. Usando tal estratégia reducionista, em que fomos classificados e estereotipados, os Estados Unidos então se inseriram como potência superior.

Convém esclarecer o porquê de se enfatizar o Brasil, a Argentina e o México no primeiro desenho produzido. Obviamente, a política externa da “Boa Vizinhança”, como foi designada pelos próprios norte-americanos, decidiu acreditar em uma maior aproximação por tais países justamente por que esses se tratavam de possíveis potências regionais na Latino-América. Estreitando-se, portanto, os laços entre tais nações, a tentativa(não-fracassada) de reforçar a autoridade do país de Roosevelt naquela época seria então facilitada.

Não estou dizendo, de forma alguma, que nossa imagem é conseqüência de um mero desenho produzido pela equipe de Walt Disney. No entanto acredito que tal produção foi determinante para que a percepção que eles têm em relação a nós se tornasse mais predominante.

Acredito que a cultura brasileira tem muito mais o que demonstrar além de samba e caipirinha. Nossa história é riquíssima. Nosso povo, batalhador. Nossas conversas, pertinentes.

O Brasil é um país com potencial. Eu acredito nele e nas pessoas que nele residem. Porém, é preciso que demonstremos a nossa crença. Precisamos nos reafirmar como potência regional; responder à altura a ameaças chavistas; impor-nos quanto à internacionalização de nossas águas; criar resistências em relação à transferência de novas tecnologias(etanol). Precisamos educar a sociedade internacional, demonstrando que não somos apenas o país do carnaval, do futebol.

Mostremos ao mundo que hoje chegamos para dominar, não mais sermos dominados.

É uma pena que o Brasil não dependa somente das pessoas otimistas e determinadas. É uma pena que ainda careça de vontades governamentais para chegar ao seu auge.

Mas eu ainda assim acredito.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Guerra às FARC

Sempre procuro respeitar as opiniões alheias, principalmente quando não convergem com as minhas. Ainda que eu não concorde com algum argumento, sempre tento extrair dele alguma coerência que acabe me provando que ele de fato não é totalmente inválido.

Pois bem. Foi realizado um Fórum na última quinta-feira, na faculdade onde estudo, ESPM. O tema era a respeito do conflito ocorrido entre Colômbia e Equador, o qual evidentemente se estendeu ao polêmico Chávez.

Depois de os professores palestrarem e se posicionarem sobre o incidente, abriu-se um tempo para perguntas. E é aí que surge a colocação infeliz de um novo futuro diplomata corporativo: - "Levando em consideração que os fins justificam os meios, não podemos condenar as FARC, já que eles são nada mais que um grupo revolucionário esquerdista que crê em seus ideais".

Respira, Caroline. Primeiramente, se apoiar nas palavras de Maquiavel para tentar argumentar algo que não condiz com sua principal ideologia, já é por si uma incoerência. Maquiavel preza sim o poder dos governantes, mas o faz exclusivamente para manter o BEM-COMUM em sociedade. E acreditar que os atos guerrilheiros das FARC têm fins pacíficos e benéficos para a sociedade, é o mesmo que acreditar no discurso de Bush quanto à extinção de subsídios para os produtos agrícolas norte-americanos.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia poderiam ser apenas um grupo revolucionário organizado, cujos integrantes expressariam somente uma intensa simpatia pela proposta econômica marxista. E eu os respeitaria plenamente caso tivessem tal ideologia. Mas, infelizmente, a proposta das FARC há muito já superou a proposta de Marx e Engels. Hoje, podemos considerá-los um grupo fundamentalista guerrilheiro e terrorista, que estimula e apóia o narcotráfico, além de depender de seqüestros e negociações ilegais para seu sustento.

A Colômbia hoje em dia conseguiu evoluir economicamente não somente por tecer uma excelente relação com os EUA, mas também pela competência da sua eficaz frota militar, que hoje conta com aproximadamente 400 mil homens. Entretanto, mesmo havendo esse contingente aparentemente exagerado para manter a segurança nacional, ainda não é imune às ameaças terroristas de grupos guerrilheiros esquerdistas(FARC, ELN). Tal ambiente instável é consideravelmente desvantajoso para aqueles empresários que acreditam nas oportunidades do mercado colombiano, os quais ainda não se sentem seguros a investir em tal região.

Os empresários que para lá viajam, cientes do risco que correm, já desenvolveram táticas para que não sejam seqüestrados com facilidade. Lá, eles aposentam seus trajes formais e passam a freqüentar o ambiente de trabalho vestidos de calça jeans e camiseta. Ademais, é aconselhável que em seus cartões de visita não haja qualquer menção ao cargo que exercem em suas respectivas empresas.

Já existem empresas especializadas em fazer escolta a cargas de fornecedores colombianos, para que qualquer tentativa de roubo por tais grupos seja fracassada. As ações dos grupos guerrilheiros impactam diretamente e de forma negativa na economia colombiana. Certamente, se certas atitudes fossem extinguidas(ou, melhor ainda, se tais grupos fossem exterminados) os investimentos na nação de Uribe se multiplicariam drasticamente, e tal país poderia, quem sabe, se destacar no âmbito latino-americano.

A meu ver, se for preciso intervir para o Bem-comum, tal ato é totalmente válido. Acho plausível a atitude do presidente colombiano, ainda que ele tenha violado o território do Equador ao bombardear um acampamento das FARC. A popularidade de Álvaro Uribe em suas fronteiras chegou a 85%, o que revela a aprovação do povo colombiano quanto à ação invasora. É evidente que a população colombiana sinta-se mais segura e, consequentemente, mais satisfeita.

O que acho reprovável e inconveniente foi a reação de Chávez ao incidente. O presidente, além de acirrar a crise diplomática entre Colômbia e Equador, reservou um minuto de silêncio em seu programa semanal da TV a Raúl Reyes(um dos líderes das FARC), além de relatar a profunda amizade existente entre eles. Arquivos resgatados no acampamento do grupo colombiano divulgaram, além disso, que o presidente venezuelano iria entregar, ou de fato entregou, 300 milhões de dólares às FARC.

A propósito, onde estaria Juan Carlos em uma hora dessas? Acho que somente um “Por que no te callas? ” não foi o suficiente. Pasmem, mas Hugo Chávez está surdo, além de cego. Poderia estar somente mudo, o que acham?

domingo, 2 de março de 2008

À desigualdade dos sexos

Margareth Thatcher, Maitê Proença, Angelina Jolie, Gisele Bündchen, Ana Amélia Lemos...O que teriam em comum? Famosas? Muito mais do que isso.

Carine Martins, Patrícia Palermo, Geni Coelho, Therezinha Hermelinda. Anônimas, para o mundo. Para as pessoas que as rodeiam, são fortes o suficiente para mudar a ordem dos fatos.

Todas mulheres. Todas poderosas. Umas mais felizes que outras. Unânimes no quesito vencedoras.

É evidente a diferença entre os sexos. Há um abismo entre o funcionamento de nossas mentes e corpos, e isso data principalmente de nossa evolução histórica.

Felizes aqueles que, em um dia pré-histórico, nos designaram tarefas domésticas e de proteção a nossa cria. Hoje, ao nos compararmos a eles, temos muito mais dificuldade de desconcentração do que os mesmos. Temos mais facilidade em acumular tarefas, nunca divergindo nossa atenção. Nossa visão é muito mais ampla. E nossos atos racionais quase sempre se confundem com nossas emoções. É por isso que talvez sejamos mais explosivas, mais fanáticas, mais intensas, mais espontâneas e muito mais interessantes.

Mas graças ao Tempo hoje nos desvinculamos de nosso clássico estereotipo. As mulheres hoje em dia são muito mais resistentes a se reservarem aos filhos e às tarefas da casa. Estamos prontas para a batalha, pois não temos mais o que temer. Já somos tanto ou mais fortes que eles.

O reconhecimento dentro da casa já não nos satisfaz. Criamos asas, agora podemos voar. Voaremos como professoras, diplomatas, governadoras, dentistas, advogadas, empreendedoras.
Nosso limite, ainda que haja cinzas de um infeliz preconceito, somos nós mesmas. E se alguém ousar frear nossas pretensões, prepare-se para se surpreender.

Porque somos, em nossa natureza, muito persistentes. Enquanto não alcançarmos aquilo que nos é merecido, não sossegaremos.

Porque não somos mais o sexo frágil, somos de fato o sexo superior. Um brinde à eterna desigualdade.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Imortal vô Nanado

Sempre achei que o nascimento fosse a etapa mais maravilhosa da vida dos seres humanos. Hoje discordo. O renascer é muito mais mágico, interessante. Assistir uma pessoa amada se recuperando é a coisa mais gratificante que a vida pôde me propor até o dia de hoje.

Meu avô é um personagem. Ele é ímpar. Irônico, sarcástico, hilário e muito, mas muito perspicaz. Nasceu com quase nada na sua terra amada, Garopaba. Construiu uma família, era feliz com sua carroça, nunca deixava faltar o pão. Já fez de tudo um pouco. Já foi um pouco de tudo.

Foi um pai durão. Um marido apaixonado. Talvez por demais embriagado, mas isso não lhe tira seu posto de herói.

Depois dos filhos vieram as noras, e logo depois os netos. Sempre presente, sempre contente. Rindo, dançando, assoviando. Nunca deixou um dia sequer em branco.

As páginas de seu livro são por demais amareladas, por demais folhadas. Já errou, já foi perdoado, já se arrependeu e já levou os outros a fazê-lo. Sua história é fascinante, cativante, honorável. Cada minuto com ele é um presente. Um presente que te leva ao passado, e te faz imaginar o futuro. Mágico, muito mágico.

Como toda história, houve momentos tristes. Em dezembro de 98 o brilho de seus pequenos grandes olhos se ofuscou pela primeira vez. Sua amada sofreu um derrame. Na última vez em que a vi, ele estava, como sempre, presente. E eu perguntei a ele: “, o que tu queres de Natal?” E, depois de hesitar por alguns segundos, falou confiante: “Quero a minha véia em casa”.

Todos sofremos, choramos, sentimos. Ele se fechou um pouco. Cantava mais baixo, falava menos, cansava mais.

Sem companheira, em Garopaba ficou. Seus filhos na busca de uma substituta para alguém simplesmente insubstituível.

(Minha avó era magrela, desajeitada, e por demais preocupada. Nenhuma das netas poderia sentar-se à mesa sem prender os cabelos. Sua gargalhada era forte. Seu peixe inigualável. Adorava andar de moto. E me deixava comer pão torrado com manteiga quando eu bem entendesse. Nossa, era muito bom.)

Mas os anos se passaram, a angústia da solidão também. Já sentia-se mais à vontade na companhia do vento. Já começava a cantar em tons mais agudos, a gargalhar de forma mais convincente.

Um susto no final do ano passado. Pedra nos rins do vô. Não era qualquer pedra, era do tamanho de uma noz, aproximadamente. E não era qualquer avô, era um de 97 anos.

Tiraram a pedra. Infecção. Jatinho para Porto Alegre. Baterias de exames, outra cirurgia.

Eu fui vê-lo uma só vez. Pensei em não ir, pois receava vê-lo franzino, triste. Não era essa a imagem que eu queria guardar. Mas fui. Olhei para os olhos dele e falei que queria que ele ficasse bom, que ele iria sair dali. Os seus olhos me tranqüilizaram. Meu avô não iria me decepcionar.

Ele renasceu. Ele renasceu.
Ele é um mito. Meu ídolo. Meu avô. Pode nunca ter estudado, mas com certeza é o mais fiel professor, pelo menos para mim. Mostrou-me o que é ter vontade de viver. Mostrou que não se pode ter medo de nada, que é preciso acreditar.
Ele mostrou a todos que a vida é pra ser vivida, desbravada, afrontada.

Me sinto muito, mas muito agradecida de poder ter ele do meu lado. Mas tenho certeza de que, quando ele se for, sua missão já foi cumprida. Sua mensagem, assimilada.

Te amo pra sempre.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Opiniões vagas para o lixo!

Comentários vagos me irritam. Pessoas sem argumento me chocam.

Há algumas semanas eliminei a carne na minha alimentação; e ao mesmo tempo me surpreendi com certas opiniões, que me vaiaram de modo impertinente e supérfluo.

Fico pasma com a falta de respeito que as pessoas escancaram. As escolhas são individuais, e pra cada ato há com certeza uma justificativa subjetiva e plausível. As pessoas RACIONAIS fazem algo por que acreditam em consequências positivas. Ou não também, sejamos democráticos. Cada um age por conta própria. E a pior coisa que existe é tratar com escárnio as atitudes ou opiniões alheias.

Não concordar com um fato pode ser muito mais produtivo. E tentar expressar o porquê da divergência de opinião pode ser muito, mas muito interessante. Troca de experiências é economia de tempo.

Não como mais carne porque nada mais do que 2/3 do desmatamento da amazônia se dá por causa da indústria da pecuária. Não como mais porque tenho ciência de que nossa carne hoje é competitiva no mercado estrangeiro porque não pagamos por impostos ambientais, porque o lucro das exportações infelizmente é mais importante do que problemas futuros relacionados a aquecimento global e extinção de seres maravilhosos. Não como mais carne porque elas transferem energias negativas para quem as consome, porque absorvem o sofrimento e a dor dos animais - sim, eles são sensíveis.

Entendo que hoje somos o que somos por termos ingerido carne animal na era primitiva. Nosso cérebro hoje é mais evoluído graças a certos aminoácidos presentes exclusivamente na carne vermelha. E me choco diante do fato estapafúrdio de que os gases emitidos pelo gado em geral encontram-se em terceiro lugar na lista de emissões gasosas que prejudicam ainda mais o meio-ambiente. Se hoje, graças a carne, somos mais evoluidos biologicamente, seria no mínimo aceitável que evoluíssemos intelectualmente, e passássemos a relevar assuntos que realmente importam à sociedade como um todo.

Cada um com as suas escolhas.
Para mim, é mais válido substituir o lucro enérgico gerado pela indústria da pecuaria a pagar muito mais caro mais além, quando as alternativas para barrar o aquecimento do globo se tornarão cada vez mais inalcansáveis.