quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Imortal vô Nanado

Sempre achei que o nascimento fosse a etapa mais maravilhosa da vida dos seres humanos. Hoje discordo. O renascer é muito mais mágico, interessante. Assistir uma pessoa amada se recuperando é a coisa mais gratificante que a vida pôde me propor até o dia de hoje.

Meu avô é um personagem. Ele é ímpar. Irônico, sarcástico, hilário e muito, mas muito perspicaz. Nasceu com quase nada na sua terra amada, Garopaba. Construiu uma família, era feliz com sua carroça, nunca deixava faltar o pão. Já fez de tudo um pouco. Já foi um pouco de tudo.

Foi um pai durão. Um marido apaixonado. Talvez por demais embriagado, mas isso não lhe tira seu posto de herói.

Depois dos filhos vieram as noras, e logo depois os netos. Sempre presente, sempre contente. Rindo, dançando, assoviando. Nunca deixou um dia sequer em branco.

As páginas de seu livro são por demais amareladas, por demais folhadas. Já errou, já foi perdoado, já se arrependeu e já levou os outros a fazê-lo. Sua história é fascinante, cativante, honorável. Cada minuto com ele é um presente. Um presente que te leva ao passado, e te faz imaginar o futuro. Mágico, muito mágico.

Como toda história, houve momentos tristes. Em dezembro de 98 o brilho de seus pequenos grandes olhos se ofuscou pela primeira vez. Sua amada sofreu um derrame. Na última vez em que a vi, ele estava, como sempre, presente. E eu perguntei a ele: “, o que tu queres de Natal?” E, depois de hesitar por alguns segundos, falou confiante: “Quero a minha véia em casa”.

Todos sofremos, choramos, sentimos. Ele se fechou um pouco. Cantava mais baixo, falava menos, cansava mais.

Sem companheira, em Garopaba ficou. Seus filhos na busca de uma substituta para alguém simplesmente insubstituível.

(Minha avó era magrela, desajeitada, e por demais preocupada. Nenhuma das netas poderia sentar-se à mesa sem prender os cabelos. Sua gargalhada era forte. Seu peixe inigualável. Adorava andar de moto. E me deixava comer pão torrado com manteiga quando eu bem entendesse. Nossa, era muito bom.)

Mas os anos se passaram, a angústia da solidão também. Já sentia-se mais à vontade na companhia do vento. Já começava a cantar em tons mais agudos, a gargalhar de forma mais convincente.

Um susto no final do ano passado. Pedra nos rins do vô. Não era qualquer pedra, era do tamanho de uma noz, aproximadamente. E não era qualquer avô, era um de 97 anos.

Tiraram a pedra. Infecção. Jatinho para Porto Alegre. Baterias de exames, outra cirurgia.

Eu fui vê-lo uma só vez. Pensei em não ir, pois receava vê-lo franzino, triste. Não era essa a imagem que eu queria guardar. Mas fui. Olhei para os olhos dele e falei que queria que ele ficasse bom, que ele iria sair dali. Os seus olhos me tranqüilizaram. Meu avô não iria me decepcionar.

Ele renasceu. Ele renasceu.
Ele é um mito. Meu ídolo. Meu avô. Pode nunca ter estudado, mas com certeza é o mais fiel professor, pelo menos para mim. Mostrou-me o que é ter vontade de viver. Mostrou que não se pode ter medo de nada, que é preciso acreditar.
Ele mostrou a todos que a vida é pra ser vivida, desbravada, afrontada.

Me sinto muito, mas muito agradecida de poder ter ele do meu lado. Mas tenho certeza de que, quando ele se for, sua missão já foi cumprida. Sua mensagem, assimilada.

Te amo pra sempre.

3 comentários:

Unknown disse...

Quanta sensibilidade e habilidade em "manuzear" as palavras... Fuquei muito emoocionada com a tua postagem! Saudade imensa de vc florisssssss!

Kisses!
tuiany collar

Unknown disse...

Ainda quero conhecer a fera einho batista

Bruna Coelho Martins disse...

Nanadinho eterno! amei prims!