segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Uma história de Natal


Acho meio hipócrita o sentimento de solidariedade quando este se revela de forma repentina. Mas ainda acho mais aceitável manifestar tal sentimento ainda que seja somente no Natal a passar por ele de forma passiva.

A solidariedade vem à tona principalmente na véspera do Natal por um motivo mais-que-compreensível. Nesta época os gastos são tantos, as extravagâncias se multiplicam, as contas se acumulam de tal forma. Aí nos damos por conta de quão fúteis somos. A epifania vem à tona, nos sensibilizamos e emerge uma vontade solidária de forma inesperada.

Não foi diferente comigo. O momento de revelação me tomou semana passada, quando decidi adotar uma carta do correio e realizar um desejo de Natal.

Quarta-feira de muito sol, dia perfeito para se ir ao centro. Chego no correio e me sento para começar a ler as cartas. As primeiras 15 eram totalmente inviáveis: crianças pedindo playstation2, leptops, motinhos com motor, ipods, etc. Estava quase desistindo, mas a pontinha esperançosa da minha solidariedade clamava por mais uma cartinha. E mais tantas cartinhas foram por mim lidas: bicicletas, bonecas que falam, televisores, dvds players. E minha esperança cada vez mais se esgotava. Mas o sentimento solidário predominava.

“Tudo bem, todos têm o direito de sonhar – eu pensava. As crianças carentes também se encantam com os produtos tecnológicos e modernos – e não há nada de errado com isso. Em um universo onde a tecnologia e a inovação se efetivam cada vez mais, o modo com que as crianças brincam logicamente tende a evoluir e se inovar. Se um dia era gratificante brincar de pião ou boneca de pano, hoje já não é mais.”

Admiro as pessoas que têm condições de agradar as crianças carentes com tais presentes e que de fato o fazem. Mas infelizmente, como ainda não trabalho, a vontade de realizar um desejo de Natal tornava-se, a cada cartinha, mais limitado.

Quase uma hora se passava, e a paciência findava. Foi então que escolhi a última cartinha que então definiria: ou 2 sonhos se realizavam( o meu de ajudar e o da criança a receber seu presente), ou os dois passariam despercebidos.

Era ela, finalmente a tinha achado.Uma menina da Vila Elza pedindo uma bola de vôlei e uma rede para que pudesse brincar com suas primas nas férias. Depois de lê-la pela segunda vez, acreditei que aquilo não seria somente um ato solidário ou um desejo realizado. Aquilo era uma prova de que o Natal é realmente um momento mágico, único, cheio de surpresas.

A CARTA:

“Vila Elza, Viamão

Papai Noel,

Querido Papai Noel neste natal gostaria de pedir uma bola de vôlei e uma rede para jogar com minhas primas nas férias do colejo. É porque meus pais não tem condição para me dar de presente, eu até entendo eles pois somos uma família grande, eu tenho mais 2 irmãos que se chamam Camila e Filipe e se o senhor pudese me dar este presente eu iria aproveitar, também com meus irmãos.

Beijos e abraços de Caroline Martins Kern”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Proibir não!

Os homens são bichos estranhos mesmo. Nunca estamos satisfeitos com o nosso "status quo". Sempre queremos algo inalcansável ou até mesmo inviável. Por que fazer algo proibido é tão prazeroso? Por que desafiar nossos limites é tão tentador? Se alguém um dia desvendar essas incógnitas , por favor, me contate.

É tão divertido entrar em uma festa com a carteira de identidade da irmã mais velha; tão extasiante pegar o carro do pai sem ele saber; tão compensador poder comer um chocolatezinho quando se está em dieta. O homem tem sede de aventura, é viciado em endorfina, adora se arriscar.

Tantas reflexões para convergir a uma opinião mais-que-polêmica: legalização de entorpecentes. Longe de estar fazendo apologia às drogas, mas que a proibição delas é uma medida totalmente paliativa a fim de tentar travar o tráfico e sua conseqüente criminalidade, isso é fato.

O jovem brasileiro, com seu espírito revolucionário e dotado de coragem, nunca deixará de experimentar uma maconha por que tal ato é ilícito. Muito pelo contrário. Por ser um "produto" proibido, há uma profunda curiosidade em prová-lo. E ao fazê-lo, ele naturalmente se sente destacado; não por ter fumado maconha, mas por ter feito algo "proibido", por ter superado os seus limites.

Não estou dizendo que liberar seria a melhor alternativa. Só reitero que a proibição não seria a política mais apropriada. Acho que as pessoas as vezes têm receio de discutir essas questões, e por isso mesmo acho que nunca chegamos a uma solução plausível a respeito. O governo por si deixou de discursar sobre o assunto porque acha que isso só agravaria o consumo. Ou seja, a desinformação paira em uma sociedade sem consciência das conseqüências que uma dependência química pode causar.

Eu sou a favor da legalização, mas não em um país tolo e alienado como o nosso. Não temos condições de lidar com a liberação da maconha. As mentes ainda são mesquinhas demais; ainda que o governo arrecadasse impostos e gerasse empregos com tal atitude, o consumo se alastraria e os gastos com a saúde seriam alarmantes e, portanto, a ação seria improdutiva.

A Holanda, com sua naturalidade ao tratar assuntos polêmicos e com o berço cultural conseqüente de investimentos na educação, conseguiu associar a tolerância à maconha a uma nação, no mínimo, conscientizada. O país está entre os 10 que menos consomem drogas no mundo.

Surpresa. Onde eu cheguei? Educação, precária escolaridade. Enquanto não evouirmos nossos preceitos culturais, nossa cabecinha nos sujeitará a uma vida totalmente limitada. A liberdade só pode existir quando tivermos consciência de nossos atos. E em um país onde até mesmo as autoridades não medem seus propósitos, ainda seremos por muito tempo súditos de nossas liberdades.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O buraco é mais embaixo...

Tropa de Elite superou minhas expectativas, fato totalmente previsível. O filme já era sucesso antes mesmo de ser estreado. Retratou a realidade da Vila Cruzeiro para cerca de 11,5 milhões de espectadores que, de alguma forma incentivados pelo nosso Ministro da Cultura, assistiram ao filme através de DVDs pirateados. Sim, segundo Gil, "a pirataria é uma forma democrática de disseminação da cultura". O investimento e o trabalho árduo dos produtores, diretores e atores são irrelevantes! Palmas para o nosso Ministro, grande homem de cultura esse.

Em relação às minhas expectativas, o que mais me chamou atenção no filme foi a conveniente frase declamada por Wagner Moura:"O policial tem três escolhas: ou ele se corrompe, ou se omite ou vai para a guerra". Tal frase me chamou atenção não pelo contexto a que estava aplicada, e sim pelo âmbito racional que ela particularmente me apresentou .

Essa frase é aplicável a qualquer ser-humano aberto à reflexões. Todos nós, frente a qualquer escolha que façamos, nos deparamos com tal dilema. Ou nos corrompemos- o que seria a forma mais rápida e por si menos maçante(a qual não dependeria de qualquer esforço intelectual); ou nos omitimos- dissimulamos nossa preocupação face a uma atitude, já que dessa forma não teríamos também qualquer desgaste; ou então nos armamos e vamos à guerra - forma que depende quase exclusivamente da nossa vontade própria, do nosso otimismo e da crença em nossos valores.

Muitos dos críticos esquerdistas subestimaram a produção de Padilha não porque a tortura escancarada dos militares do BOPE os intimidaram, mas sim pois, segundo eles, a "questão social" é a justificativa para a criminalidade e o tráfico que a acerca. Ou seja, para eles, a favela é simplesmente uma conseqüência imposta pela antagônica relação entre dominadores e dominados, presentes concomitantemente em uma sociedade capitalista.

O buraco é mais embaixo. E o buraco sempre converge à mesma fonte : EDUCAÇÃO. A falta de escolaridade, a falta de uma educação de qualidade gera um déficit na formação dos brasileiros que não têm condições de financiar uma educação digna. E assim, se rendem a um mundo arriscado porém bastante lucrativo, cujos principais financiadores são- ironicamente - aqueles que possuem um nivel de formação excelente.

O que estimula as pessoas a se fardarem e "irem à guerra" é, sem sombra de dúvidas, o grau de formação que elas têm. Uma educação de excelência é aquela que forma um cidadão de valores, aquela que incita os estudantes a se superarem, os estimula a serem cada vez melhores.

Nosso país necessita de uma reforma educacional IMEDIATAMENTE. Não somente aqueles que moram nas periferias, mas principalmente aqueles jovens de classe média-alta necessitam de uma reciclagem em suas educações.

Ministro Gilberto, que tal dar o exemplo?
Nossos políticos, mais que nunca, necessitam de tal reciclagem, tal é a falta de valores que os rodeiam.

domingo, 7 de outubro de 2007

Capitalismo limitado?

Se eu tivesse que escolher a ordem mais apropriada para um sistema econômico, certamente tenderia ao capitalista. Não querendo subestimar a genialidade de Marx, mas a sua idéia dificilmente encontraria êxito se fosse implementada em sua essência. Isso porque, a meu ver, o ser humano é, naturalmente, ganancioso. E o sistema capitalista, por meio da crescente concorrência que o acerca, proporciona espaço para os ambiciosos, ainda que alguns invadam tal espaço de forma inapropriada. E é aí que o Capitalismo peca.

Os países capitalistas centrais – os mais desenvolvidos - há pouco encontraram uma forma por demais intrigante para amenizar suas emissões de greenhouse gases. As reduções certificadas de emissões(RCEs), vulgarmente conhecidas como créditos de carbono, são créditos que principalmente os países em desenvolvimento proporcionam, gerados a partir de significativas reduções de gases poluidores lançados em sua atmosfera.

(Os créditos foram propostos no projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo(MDL), que é um dispositivo do Protocolo de Quioto o qual permite que países em desenvolvimento implementem projetos para reduzir emissões de carbono, e assim auxiliar os países ricos(presentes no Anexo 1 do Protocolo) em sua meta de reduzir pelo menos 5% das suas emissões de 1990 entre 2008 e 2012.)

Eu acredito que as intenções propostas pelo projeto de MDL – que, aliás, foi desenvolvido por um pesquisador brasileiro – sejam as melhores possíveis. Entretanto, voltando à discussão do capitalismo, acho que tal projeto se desfoca do desafio principal do Protocolo de Quioto, uma vez que o objetivo central está na redução de gases na atmosfera; e não na geração de lucros devido a venda de créditos.

A questão do aquecimento global é substancialmente mais relevante que o mercado de créditos. A meta do Protocolo de Quito é conscientizar sobre o problema da poluição global e incitar a redução das emissões NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS. E o que vemos? Os países em desenvolvimento, em particular o Brasil, abrindo mão da possibilidade de fomentar sua produção industrial – já que tem condições “ambientais” para isso – para vender toneladas evitadas de carbono aos países que, imprudentemente, não se sensibilizam com a consciência ambiental, e continuam a emitir seus gases a fim de desenvolver ainda mais suas Indústrias.

Não nego que os países em desenvolvimento serão também beneficiados, pois os projetos envolvendo energias alternativas farão com que nossa infra-estrutura se qualifique, além, é claro, dos lucros provenientes da venda dos créditos, que obviamente também é positivo para nossa economia. Sei de tudo isso. Mas ainda acho que, dessa forma, a participação dos países centrais na corrida em prol de um ambiente menos poluente é ridiculamente simbólica. E isso me irrita profundamente.

O capitalismo, assim, ignora totalmente a conscientização ambiental para subsistir em sua incessante luta a favor dos lucros. Isso ocorre devido à qualidade ilimitada que possui tal ideologia.

Não há, portanto, sistema que se encaixe perfeitamente ao Cenário Internacional. O capitalismo o seria, caso fosse, de alguma forma, limitado.
Que audácia a minha achar que o capitalismo é limitável. Capitalismo limitado já não seria mais Capitalismo. E entre capitalismo e não-capitalismo, fico com o primeiro, obrigada.

Que as nossas ambições sejam protegidas. E que a nossa consciência não se esconda.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sexta-feira inspiradora

Sexta-feira.
A questão democrática de Mianmar, a brutalidade do criminoso que matou 2 irmãos, o discurso retórico de Lula na Assembléia da ONU, o encontro por demais intrigante de Chávez e Mahmud, os freqüentes recalls nos produtos chineses,..Os assuntos que me cercam definitivamente não encontram espaço nesse dia tão mágico, viernes.

Mágico porque seu efeito é inquestionavelmente surreal. As pessoas inconvenientes não me irritam, as notícias ruins são - por mim - ignoradas, a comida sempre está boa, o tempo sempre está perfeito, a opinião alheia se torna definitivamente indiferente. O desgaste da semana cessa depois da longa jornada(de trabalho para uns, de estudo para outros), e estamos convidados a sair da rotina.

Quinta-feira já é uma conquista semanal. O estímulo do iminente dia-das-glórias naturalmente torna meu dia mais produtivo. E à medida que a noite de quinta se aproxima, e, por conseguinte, minha meta encontra-se a poucas horas, meu humor já se transforma significativamente.

O ecstasiante friday-effect torna-se mais extensivo ao se pensar que depois de sexta ... é sábado! Ou seja, estamos relativamente longe do dia-do-tédio, o qual nem sequer gosto de citar. Assim, durante esse período nos dedicamos intensamente à libertação, explorando a fundo a política hedonista, a política do presente prazer. E maximizando todo tempo possível para que o ingrediente SATISFAÇÃO se reproduza de forma exponencial nesse tão assediado espaço de tempo.

Eu teria muitos outros argumentos em prol da significância desse dia mais-que-especial.
Mas, felizmente, tenho MUITO o que fazer nessa bela tarde de sexta-feira, que recém se inicia.

Um ótimo final de semana a todos.
Que a sexta-feira nos abençôe.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Um desafio

Às vezes me debato com crises existenciais, quase sempre relacionadas à aplicabilidade do meu escasso e sagrado tempo. Vivo com um medo latente de que meu tempo não seja suficiente para realizar tantas pretensões. E meu medo torna-se mais sustentável à medida que me conscientizo que sou uma pessoa totalmente vulnerável, uma vez submetida a esse ambiente de extrema contingência – Planeta Terra.
Tenho certeza de que não sou uma em milhares. Compartilho minha posição com todos os jovens ambiciosos e relativamente informados, os quais também sofrem ameaças constantes em relação ao lifetime que lhes resta, e se vêem preocupados com a situação atual desse mundo globalizado e incerto.

A situação?
Conseqüências atrozes do boom das indústrias se traduzem em catástrofes naturais derivadas do desequilíbrio climático; Uma guerra desnecessária provocada para firmar o poderio de uma nação moralmente debilitada resulta em uma carnificina irreparável; Decepções políticas oriundas de atos escancarados de corrupção que desqualificam o Estado e desestimulam a população.

Esse cenário nos intimida, sim.
Mas acredito que nossas pretensões são por demais resistentes a tais condições.
Que tenhamos tempo o bastante para investir em nós mesmos. E que possamos tomar futuras decisões a partir de uma ótica mais coerente, mais humana, mais ética.

O desafio está proposto.
O tempo está correndo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Tanta reforma para fazer no Brasil, e se propõem à lingüística...

Estou extremamente estupefata. E, acreditem, não é nada relativo à infeliz absolvição de Renan Calheiros(já que de fato isso não me surpreende nem um pouco, apenas confirma a imagem que eu já tinha dessa raça facilmente corrompível). Estou pasma devido à iminente reforma ortográfica a que seremos submetidos a partir de 2008.

Cortaram o trema, os acentos circunflexos e os de ditongos abertos, além de alterarem as regras do hífen e incorporarem as letras k, w e y. A Associação Brasileira de Letras acredita que, se tal projeto for efetivado, as relações entre os países falantes da língua portuguesa irão encontrar mais facilidades em suas relações diplomáticas e até mesmo econômicas. Me poupe! Se designássemos a unificação lingüística como condição a um país se efetivar no mercado internacional, 1,3 bilhões de chineses já estariam morrendo de fome.

Levei anos para aprender que microondas se escreve tudo junto, e agora decidiram que levará hífen. Enquanto anti-semita ou infra-som passaram a ser antissemita e infrassom.

Sinceramente, não sei se vou agüentar(SIM, com trema!).
E a ABL ainda insiste que devemos ficar tranquilos, que as regras serão facilmente adaptáveis.

Tranquila talvez fiquemos,
Tranqüilos, nunca mais.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Ideologia versus Originalidade

O 11 de setembro é um fato insistentemente analisado, mas não deixa de ser extremamente inspirador. O impacto e conseqüente trauma gerado pelo grupo terrorista Al-Quaeda ainda não foi suficientemente esquecido, tal foi a sua repercussão em âmbito global. Sendo assim, passaram-se 6 anos e a sociedade ainda encontra-se na busca de uma justificativa mais plausível para tal atrocidade, de modo a não acreditar que o fanatismo religioso chegue a tal ponto.

É isso que me impressiona, a força de uma ideologia. Tanto no terrorismo, como no nazismo ou até mesmo em regimes socialistas e capitalistas, a crença vale mais que a própria raça humana, e vidas são facilmente desperdiçadas a fim de assegurar a superioridade de um propósito.

Às vezes é interessante lembrar que somos indivíduos livres, de culturas e ideais diferentes; que o mais fascinante que temos em sermos homens é a nossa flexibilidade mental e nossa criatividade; que não há nada mais valioso que opinarmos de forma original; e que, portanto, abafamos a nossa mais bela qualidade ao tentar homogeneizar uma opinião ou ideologia.

Uma opinião, se é por demais lógica, inteligente e bem argumentada, se dissipará por si só. Não é conveniente, portanto, que se envolva coerção no modo de pensar dos demais. Se o há, é porque de fato tal ideologia não é convincente.

Num mundo onde o caráter influenciável é tão persistente,
se destacam aqueles que, arriscadamente, pensam de forma original.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

O pior cego é aquele que não vê

Seria tão menos penoso acreditar nas fábulas do Seu Lula. Acreditar que a economia está indo às mil maravilhas(mesmo com ela crescendo menos que 5%), que o ensino superior melhorou como o planejado, que a desigualdade social está sob controle(viva o bolsa-esmola!), que estamos superando a corrupção(enquanto o sr. presidente continua a defender a ética dos seus ex-ministros acusados), enfim, felizes aqueles que são enganados, pois sentem-se despreocupados e prontos para reeleger seus políticos.
Não sei se o Sr. Presidente ainda encontra-se mergulhado(ou alienado?) em sua campanha política do "Lulinha paz e amor". De certo está ainda vivendo em um sonho e não ouviu o despertador. Ou o ouviu e finge que não(ah,ele não seria capaz de fazê-lo!). Talvez esteja ocupado demais com suas viagens diplomáticas e não tenha tempo suficiente de abrir um só jornal. Ou ainda seja fraco demais para abri-lo.
É, abrir um jornal hoje e conseguir lê-lo até o fim é tarefa para os mais fortes. Cada jornal é uma paulada. Hoje, por exemplo, já recebi a minha: "Furacão Félix atinge categoria 5 e passará por Nicarágua e Honduras; Bandeira Brasileira é queimada no Vale do Taquari; É comprovada a intensa redução do Lago Chade na China; Garota de 17 anos liderava quadrilha no Vale dos Sinos; Arroio do Dilúvio mais-que-poluído; Indícios de abusos parlamentares na administração; Trabalhadores brasileiros produzem menos segundo a OIT". Sentiu? Agora respire.
A realidade assusta um pouco, eu sei. Mas acredite, negá-la não nos levará a nada.
Antes de medicar um paciente, o médico necessita tomar conhecimento do que está se passando. O mesmo com o Brasil ou com o Mundo.
Por que o pior cego é aquele que não vê.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Egoísmo

É tão fácil simpatizar com os liberalistas. É confortável demais acreditar que a natureza humana é relativamente pacífica, e que os homens são, em sua essência, altruístas.
Mas isso se torna tão difícil quando se vive em pleno século XXI. O egoísmo atualmente alastra-se de forma tão eficiente que põe em xeque a tese de Locke, de modo a firmar a posição realista.
Hobbes e Maquiavel estavam, pois, certos.O egoísmo é sim inerente à natureza do homem. E defendo tal teoria não pelo argumento clássico, segundo o qual somos(os homens) tão iguais a ponto de que nossa capacidade altruísta só se revela a partir de nossos interesses próprios. Isto é, sempre agimos em defesa própria, sempre tentamos superar o outro, e, em conseqüência, vivemos constantemente em estado conflituoso. Desculpe-me Hobbes, mas essa teoria não mais se adapta a meu ver.
Hoje vivemos um egoísmo mais evoluído, um egoísmo com mais classe talvez, porém um egoísmo, ao meu ver, pessimista(seria isso uma redundância?). Um egoísmo que nasce(ou desperta) do nosso interior a partir de estímulos externos. Um exemplo: Como é fácil sentirmos inferiores. Às vezes não temos muito o que pensar e caímos em conclusões do tipo "como seria fácil ser o fulano" ou uma mais clichê "como seria mais fácil viver em outro país". É muito fácil pensar assim. Difícil é pensar "como o fulano chagou até lá?" ou ainda "quais são as atratividades que tornaram tal país o que é hoje?"
Reclamar sem fundamentar é o que nos torna extremamente egoístas.
É fácil se referir ao Renan Calheiros com indignação, apontar a política brasileira como fraca, culpar o Judiciário para as freqüentes impunidades. Difícil é a ação; difícil é acreditar no poder que temos - tanto como pessoas como nação -; difícil é acreditar num ideal, acreditar em valores, acreditar em protestos- sim, falta demonstrar nossa indignação.
O egoísmo repentino pode sim ser de todo positivo: quando nós o usarmos para obter uma epifania! Enquanto isso não ocorrer, o egoísmo tenderá a crescer. E os nossos ideais - que um dia se mostraram tão resistentes - terão seus dias contados.